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Por Onde Anda a Chuva? - Segundo Intensivo de criação

  • Foto do escritor: La Luna Cia de teatro
    La Luna Cia de teatro
  • 23 de mai. de 2023
  • 5 min de leitura

Após o primeiro intensivo de criação e provocação com as diretoras em março, seguimos trabalhando nas canções e nos corpos. Mantivemos regularmente os exercícios de corpo e voz, e improvisações com as figuras que começamos a construir, Bentonita e Caulim. Improvisamos várias vezes a entrada, as tentativas de chamar a chuva, as canções e formas de fazê-las como ação, como cena, não apenas como uma performance musical. Bárbara Biscaro, que mora mais perto, trabalhou com o grupo em outros momentos entre os dois intensivos, e nos ajudou bastante na manutenção das figuras, do jogo entre elas, e principalmente a fazer a música acontecer como jogo e cena.

Também nesse período dedicamos a criação de novas letras e músicas, pois decidimos no primeiro intensivo que as figuras de barro raramente irão falar, e a dramaturgia será dada através das músicas. Então junto ao treino e manutenção do jogo das figuras, escrevemos mais músicas direcionando a criação destas para a cena e para o jogo de cena. E então seguimos treinando regularmente para decorá-las e sentir como acontecem no corpo e na voz das figuras de barro.






Enfim chegamos ao segundo intensivo de criação com as diretoras no dia 06 de maio. Começamos o sábado de manhã com treino de corpo e voz, e mais uma improvisação da estrutura que havíamos levantado anteriormente - o jogo cresceu bastante desde lá. Abrimos os trabalhos com esse primeiro treino e jogada, e então na tarde desse sábado recebemos no espaço de trabalho a cenógrafa e figurinista Adriana Barreto, e o mascareiro Sid Ditrix. Havíamos combinado previamente, de Adriana e Sid levarem os primeiros esboços para mostrar pra equipe, e também testarmos em cena. E também para assistirem presencialmente um ensaio e ver a estrutura que estava surgindo, visto que antes só haviam visto por fotos e vídeos de ensaios. Era o momento de conectar presencialmente e de já colocar alguns esboços na roda para testes.



Foi lindo como cresceu os trabalhos. Ainda em esboços, mas com figurinos, máscaras a visualidade e a sensação interna cresceu as figuras; e ainda, com os objetos dispostos para as figuras Caulim e Bentonita, o jogo entre elas cresceu demais. Ter os objetos foi essencial, para não ser algo que pensávamos da cabeça, mas que sua utilização surgisse de uma necessidade real das figuras: De pegar a garrafa de água e derramar, de organizar o espaço, de se umedecer com os paninhos, de levar trouxa pra cá, levar trouxa pra lá para realizar o rito da chuva... Porém, ao mesmo tempo que foi incrivelmente divertido jogar com os objetos dispostos, também foi um pouco caótico por ser mais coisas a lidar, então Cláudia percebeu como era imprescindível mais um tipo de treino: Espacialidade. Treinar o domínio do espaço, saber tudo que está no seu campo de visão sem a necessidade de focar, saber onde está o corpo da colega, onde está tal objeto, e equilibrar essas presenças no espaço.


Foi então que depois de uma noite festiva com a equipe, regada a um pouco de vinho, comidas e diversão, que começamos o domingo com esse foco: espacialidade. Enquanto a cenógrafa/figurinista e o mascareiro trabalhavam juntes na nossa casa no reparo e avanço de algumas peças e trocando ideias, Claudia nos provocou com várias exercícios no espaço de trabalho. Começando com composição e arquitetura dos objetos, criando imagens e volumes, passando por exercícios de percepção de campo da visão periférica, cinesfera e "jogo do platô" (equilibrar os corpos no espaço como se o espaço estivesse sustentado apenas por uma agulha no centro, na iminência de tombar pra um dos lados). Aí surge mais um treino imprescindível para fazermos, ainda mais para esse trabalho que pretende dispor o público em semi-arena em espaços alternativos. O treino do jogo do platô foi constante, a chavinha estava ligada desde o aquecimento até os momentos de cena. Bárbara já vinha trabalhando com nós na percepção dessa semi arena, e agora precisávamos compor e jogar com os volumes e pesos dos corpos nesse espaço em semi arena. Foi ótimo esse trabalho e agora temos mais foco de exercício para o repertório de treino.

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Trabalhamos com o mascareiro e cenógrafa/figurinista até domingo, e que além de mostrar os elementos que vinham trabalhando e assistir, também foi enriquecedor enquanto um olhar externo e compartilhamento de percepções. A partir das suas contemplações e comentários, percebemos que a dramaturgia precisava ficar um pouco mais clara, e que além do trabalho de corpo, música e jogo, precisaríamos trabalhar na dramaturgia do espetáculo. Uma coisa que foi muito proveitosa foi que na criação do trabalho, a partir do jogo das figuras e e improvisações, não determinamos cenas, mas sim células. Estas últimas podendo ser movidas e trocadas de lugar, funcionando como um universo num todo, e então no momento de rever e aprofundar na dramaturgia, essa escolha de trabalhar por células nos deu muita liberdade de testar algumas formas e mudar a sequência dos acontecimentos até encontrarmos uma estrutura nova que nos contemplasse e encadeasse melhor para a dramaturgia.

Seguimos trabalhando então de segunda a quinta agora com os objetos físicos e não mais imaginados, o que foi essencial. Mantivemos principalmente o treino de espacialidade e visão periférica - o que nos foi muito libertador e divertido - e dessa vez mais do que improvisar os acontecimentos do início ao fim, começamos a marcar algumas sequências, visando desenhar o espaço. Foi um trabalho imprescindível que cresce ainda mais o jogo das figuras, tendo desenho para dali podermos brincar e jogar. Além disso focamos também em solucionar questões de dramaturgia.


A criação desse trabalho se dá por alicerces, partindo primeiramente da técnica (corpo e musicalidade em cena, como pretendido pelo projeto), depois pela criação das figuras, seguindo pelo jogo e relação delas; tudo isso levantado no primeiro intensivo e mantido nos treinos. Agora com isso construído poderíamos olhar para uma linha dramatúrgica. Então revisitamos letras, a história das figuras e da chuva que elas buscam, trocamos células de lugar, e experimentamos tais mudanças partindo também do jogo das figuras. O que era orgânico pra elas fazerem naquele momento em que estavam, qual máscara viria agora… Tal olhar pra dramaturgia também partia da forma e organização que o espaço se encontrava: Aonde está cada objeto, qual instrumento temos em mão; E também perpassando pelo imaginário taky onqoy que nos pulsava: Qual acontecimento histórico impulsionava as figuras, qual máscara (chuva ou seca) era demandada nesse rito/momento, quão úmidas estariam as figuras, suas memórias, a conexão com o público… E depois de muito trabalho, encontramos uma estrutura que nos fazia sentido.

Agora o trabalho segue! Além de manter os treinos todos, o jogo, as figuras, e as músicas, temos também agora que repetir a sequencia, saber onde está cada objeto e instrumento, desenhar o espaço… Levaremos os objetos de volta para Adriana e Sid poderem seguir trabalhando neles, e apesar de ficarmos sem os objetos até o próximo intensivo, temos as movimentações e desenhos de espaço definidos, temos uma estrutura para repetir e agora daí crescer ainda mais o jogo das figuras e das músicas.


É estranho, mas podemos sentir o cheiro, a temperatura, a pressão e quiçá a textura. Parece que estamos no caminho certo, cada vez mais perto de descobrir Por Onde Anda a Chuva.

Registros fotográficos: Sid Ditrix

 
 
 

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