Músicas à Moda Velha: Entrevista Dona Idalina e seu Valdemiro
- La Luna Cia de teatro
- 28 de jun.
- 3 min de leitura
Atualizado: 29 de jun.
Relato sobre entrevista com a Dona Idalina e seu Valdemiro
Por Amália Leal
Era uma tarde ensolarada do mês abril, quando atravessamos o portão da casa de dona Idalina e seu Valdemiro. A casa, já muito conhecida por nós de outras visitas, guarda a sabedoria da benzedeira e conhecedora do poder das ervas, famosa por suas orações em Canelinha/SC. Lá dentro, o tempo parece ter um ritmo próprio e o espaço possui uma atmosfera mágica, perfumado com o cheiro do café recém-passado e do doce de mamão caseiro, e marcado pelo vento que balança as folhas das árvores do quintal. Ela e seu Valdemiro nos esperavam com um sorriso sereno, daqueles que só quem carrega boas histórias tem.
Já estivemos aqui outras vezes em busca de histórias de benzimento, mas nesse dia, fomos em busca de lembranças musicais. Dona Idalina, com sua voz doce e seu olhar carregado de bondade, nos levou para um tempo e lugar em que o Terno de Reis era outra festa, quase que uma dança, uma brincadeira. Em sua infância, na cidade de Leoberto Leal em Santa Catarina, o Terno de Reis vinha mascarado. Homens viravam mulheres, mulheres viravam homens, e personagens curiosos ganhavam vida à noite. Juca e Maruca, figuras que ela ainda guarda na memória, percorriam as casas pedindo comida, sempre cantando:
"O Juca mais a Maruca fizeram uma combinação, O Juca de salto alto e a Maruca de pé no chão."
O medo e o encanto caminhavam juntos na lembrança da menina que via o cortejo se aproximar. As máscaras, os bonecos, as vozes que pediam pão, queijo, linguiça. Era uma verdadeira festa.
Foi muito interessante perceber que, mesmo sendo cidades próximas (aproximadamente 2 horas e meia de distância), Canelinha e Leoberto Leal apresentam diferenças significativas no que se refere à tradição do Terno de Reis. Ouvimos relatos de que em Canelinha o Boi de Mamão, brincadeira popular com bonecos e personagens, vez ou outra acompanhava o Terno de Reis, mas não era regra. Geralmente a tradição por aqui em Canelinha era muito mais musical e tradicional, e vozes e instrumentos reinavam, já em Leoberto Leal. a manifestação do Terno era mais festiva, mais teatral. Trazia máscaras, personagens e ritos de brincadeira popular.
Depois da conversa, a dona Idalina nos convidou para chegar até a mesa, e assim, desfrutarmos do café quentinho, do pão caseiro, do bolo de coco e do doce de mamão. Tudo carregava o sabor de casa, de acolhida. Entre goles de café e risadas, celebramos aquele encontro. Dona Idalina ainda trouxe uma de suas garrafadas para provarmos. Tinha gosto e cheiro de cura. As ervas engarrafadas, curtidas por muito tempo, carregavam um sabor amargo que se espalhou pelo céu da boca quando provamos. Dona Idalina explicou com cuidado do que era feita a garrafada, para que servia cada erva e onde encontrá-las. Contou que aprendeu a preparar o remédio com uma índia no Paraná e compartilhou histórias de como suas garrafadas já ajudaram muitas pessoas ao longo dos anos.
No quintal de dona Idalina, cheiramos e sentimos sálvia, cintrão, citronela, manjericão, alecrim... Cada folha com um segredo, um jeito de curar. Passeamos e conhecemos as outras casas do terreno, cada canto uma história diferente. Conhecemos novos pedacinhos daquele lar.
Quando deixamos sua casa, o sol já estava quase se pondo. Saímos dali carregando histórias, cheiros e o afeto de quem, sem pressa, nos abriu as portas da memória e das saudades que carrega no peito.










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